terça-feira, 21 de outubro de 2014

capricho

Nasceu um dia pertinho da hora do jantar. Algures alguém escrevia que os sons tocariam uma melodia sedosa e doce, com cheiro de cravinho e a tomilho fresco. Nunca se esqueceu do que diziam as rezas, Carmina deixava-lhe escrito, todos os dias, num papelinho dobrado pousado no banco do jardim (os figos serviam para acompanhar, um de cada vez).  O gato das botas, escrito em livros pequenos e mansos, ensinava coisas aos meninos que sabiam que amanhã naquela hora estariam ali outra vez. A ciganita escura passava devagarinho com água fresca para o chá ( tu nunca gostaste dela, tinha piolhos, uma maleita danada). A tarde trazia um som sereno que se entregava aos ouvidos de quem o deixasse entrar, ao mesmo tempo que a brisa fresca se recolhia da noite e do perigo. A música continuava, ali para as bandas da casa velhinha, e tu seguravas-lhe sempre na mão pequenina. Agora morreste-lhe e parece que ninguém percebeu ( ou todos leram assim de longe). Há uma festa que lhe deves e é preciso que lha pagues, hoje, no sítio que ambas sabem, nem tarde nem cedo, nem de noite nem de dia. Claro, não se exigem presenças a pessoas como tu, só às terrenas. Mas a única verdade é que te escolheu a ti (calma, tem calma, sempre a soubeste caprichosa). Não faltes. 

2 comentários:

  1. Que texto ternurento...
    Só uma boneca o poderia ter escrito :)

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    Respostas
    1. Estás a chamar-me boneca em publico? Assim fico corada... :)

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