domingo, 11 de junho de 2017

medo

Descobri há pouco tempo que os nossos maiores medos podem acontecer. Não aqueles que abraçam os sonhos no meio das noites, em que caímos de nuvens macias, corremos em fuga sem nunca sair do lugar, somos engolidos por ondas gigantes ou por buracos infinitos que nos fazem acordar num salto, para logo no minuto seguinte nos encontrarmos na nossa cama a sossegar o corpo atordoado. São medos daqueles que nos perseguem a raiar a loucura, mas que bem vistas as coisas acontecem no mundo onde vivemos, para nos lembrar que nos dias da existência, pode mesmo mesmo, morar o abandono. Uma criança morreu de fome agarrada à mãe, que faleceu de doença súbita, e ninguém deu por falta dela. Ou melhor, deu, mas não se procurou o suficiente para a encontrar, e ela, agarrada a uma mãe morta, morreu também, sem nunca a largar. Fiquei aflita, engoli em seco, respirei muito fundo e trouxe à minha memória aquele que talvez tenha sido o meu maior medo, desde que fui mãe. O meu maior medo durante muito tempo foi estar sozinha com o meu filho, e ruminar insistentemente no que lhe aconteceria, se algo súbito me ocorresse a mim. Hoje os anos serenos ensinaram-me que eram delírios exagerados de uma ansiedade mórbida, quiçá originada na inexperiência e no stress materno da primeira viagem. Aquela mãe aprendeu de outra forma, bem mais violenta, outra coisa completamente diferente. Por esta hora, alguém já lhe deve ter dito que os medos maiores podem não ser delirantes, que a vida é um imprevisto duvidoso, e que não há medo de mãe que seja maior do que a realidade. 

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